Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

width=

O Vexilóide de Alexandre Magno

wildlife-3232671_960_720.jpg


Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

Adrão e o Ventor
Caminhando por aí
Ventor e a África
Observar o Passado
Planeta Azul
A Grande Caminhada
A Arrelia do Quico
Os Amigos do Quico
Fotoblog do Quico
Fotoblog do Ventor
Fotoblog de Flores
Rádio Ventor
Pilantras com o Ventor
Fotoblog do Pilantras
Montanhas Lindas
Os Filhos do Sol
As Belezas do Ventor
Ventor entre as Flores

07.12.11

General, Melo Egídio ...


Quico e Ventor

... o Governador. O governador do distrito do Niassa, no norte de Moçambique e o Governador Geral de Macau, mais tarde.

Um dia cheguei a Moçambique, segui o rumo e tudo correu como eu queria. Fui parar ao Niassa, Nova Freixo, mais precisamente, AB6 - Aeródromo Base 6. Isso aconteceu no ano de 1968 e a 31 de Janeiro, cerca da meia noite, cheguei a Nova Freixo. Dois meses, em Nova Freixo e rumei a Marrupa ("terra do Desterro", significado indígena de Marrupa) logo de seguida. Por ali, com intervalo de cerca de meio mês, estive oito meses e meio.

Foi em Marrupa que ouvi falar desse homem. Um militar que seria, na altura, Coronel - O Coronel Melo Egídio, Governador Civil do Distrito do Niassa.

Um dia, na minha caminhada por Marrupa, no Aeródromo de Manobras 62 (AM 62), de manhã cedo, estava o meu amigo "Louco da Malásia" de serviço, no Posto de Rádio e eu, dormindo! O dia acordou com uma grande trovoada sobre Marrupa. Na sequência da azáfama do dia anterior, eu dormia e, de repente, senti que o Posto de Rádio da Força Aérea iria abaixo ou ardia!

Um grupo de militares invadiu o Posto de Rádio. O burburinho deles, juntou-se à pedalada dos relâmpagos e dos trovões. Tudo aquilo se tornava insuportável. Eu, que até era bom rapaz, pelo menos fazia por isso, comecei a sentir-me chateado. Sem reparar quem estava, pedi ao meu amigo Louco da Malásia para desligar os equipamentos. Ele assim procedeu mas a pressão sobre ele era muito grande! Um grupo de militares achava que o homem não falhava e que chegaria, mesmo no meio da trovoada! No meio da balbúrdia acabei por acordar e virei-me para o outro lado. Mas a algazarra foi aumentando e eu, sem mais nem menos, metido no meio dela, sem justa causa. Pelos fios que desciam das antenas, desciam também os relâmpagos e o Posto de Rádio parecia incendiar-se.

Por fim, ouvi uma voz dirigida ao Louco da Malásia: "que está você aqui a fazer? Você não está de serviço? Ligue essa merda, senão os homens ainda morrem e nós não sabemos"! O Louco da Malásia que, também era bom rapaz, cedeu e fez a vontade aos cabeças do ar condicionado do Sector Echo, ligando os emissores e chamando Vila Cabral. Um relâmpago endiabrado penetra junto dos fios. Parecia que nos queria destruir o Posto de Rádio e eu não queria o Posto de Rádio destruído. O meu sono sumiu. Endiabrei! Levantei-me, com calma, em slipes, passei no meio dos cabeças de ouro do Sector Echo, espreitei pela janela e, ... sem mais, dirigi o dedo grande do meu pé direito, ao botão geral dos equipamentos de rádio, pressionei e disse: "só gente que não percebe nada disto, julga que um avião entra hoje, em Marrupa, enquanto as circunstâncias se mantiverem. «Chegaste a enviar a informação meteorológica para Vila Cabral»? "Sim, mas já não me chegaram a informar se o avião iria decolar". «Se descolou, quando tiver a área de Marrupa à vista, foge logo para trás».

Virei-me para o meu amigo Louco e disse: «não ligas mais esta coisa, hoje, enquanto eu não te disser, ouviste! E que está esta malta aqui a fazer? Todos lá para fora»! Era fora do Posto de Rádio, abrigados pelo telheiro, que eles deviam guardar, se as houvesse, as comunicações. Ficamos só eu e o Louco da Malásia. Por fim, mais tarde, os nossos amigos do Sector Echo, acabaram por abalar. Chegaram à conclusão que eu tinha razão e desandaram. Pensaram que o avião nunca mais chegaria, como não chegou! Seria impossível e ainda bem para todos, eles e nós!

gen-melo-eg.jpg

 

Soube, na sequência dessa pequena escaramuça, que o Senhor Governador Civil do Niassa, teria informado que, naquele dia, iria fazer uma visita à bela terra do DESTERRO - Marrupa!

Dias depois, fui informado pelo meu Comandante, em Nova Freixo, que havia uma queixa do Comandante do Sector Echo, enviada para Nampula, contra mim e queria saber pela minha boca o que se tinha passado. Disse-lhe que não sabia de nada, tinha de se "esmerar" para me fazer compreender o porquê, pois nunca tivera qualquer mal entendido com o comandante do Sector Echo. Então, o meu comandante lá veio com o meu aparecimento  no meio do Staff de Marrupa em "trajes menores"! Percebi tudo mas, o ataque daquele Maralhal, contra o Fox, saiu baldado. Eu apenas defendi os equipamentos contra casmurros precipitados, dos quais nem vi galões.

 
Algum tempo de felicidade, nas escaramuças da guerra, com a minha cegonha
 

Mais tarde, apareci em Vila Cabral e, podem crer, vim a conhecer o Senhor Governador Civil, Melo Egídio e, se alguém tiver dúvidas, podem crer que tivemos sempre um relacionamento exemplar. Para ele, eu era o Ok, OK, ... porque lhe resolvia alguns problemas da sua malta civil, sempre que possível, especialmente, nos transportes para o Hospital de Nampula.

Poderia falar muito sobre esses tempos do Niassa e bastante sobre esse homem que me pareceu muito querido das populações desse Distrito.

Esse homem, o Governador do Distrito do Niassa, em Moçambique, que veio a ser Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas e Governador de Macau e que, por determinação do Senhor da Esfera ou das Parcas, nos deixou hoje, merece toda a minha consideração e votos de simpatia pelo pouco tempo de convivência que tivemos no Niassa, em Vila Cabral. O sorriso dele cativava.

Deixo aqui os meus pêsames a toda a sua família, especialmente, à sua filha Paula, que melhor conheci, se é que ainda existe, neste nosso mundo, neste nosso Planeta Azul.

Que Deus o tenha a seu lado, Senhor General.




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral

1 comentário

Comentar post