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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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08.11.05

O Facochero


Quico e Ventor

Outro amigo africano

Nas savanas africanas, diz o Ventor, coexistem facocheros, elefantes, leões, leopardos, chitas e um sem fim de animais. Hoje coloco aqui o que o Ventor me contou do facochero.

«Na mesma tarde que vi o leopardo, na rapada onde a água nascia, depois da peripécia, devido à hora, decidimos regressar ao Aeródromo pelo mesmo caminho que tínhamos levado. Cada um voltou no sentido inverso e eu, que na caminhada anterior era extremo esquerdo, passei, no regresso, a ser extremo direito. Após um bocado de trajecto, caminhávamos no silêncio, na perspectiva de encontrarmos perdizes, daquelas que voam de árvore para árvore que andavam por ali, porque a outra caça teria sido espantada com a nossa passagem.

Eu continuava afastado do companheiro mais próximo que seguiria à minha esquerda e, de repente, sinto um restolhar violento no mato à minha esquerda e sinto um bólide passar junto às minhas pernas que nem sei se deu para as encolher e saltar, à retaguarda, mas creio que foi isso que fiz. Ainda em desequilíbrio, apontei a arma que ainda levava com os zé-galotes que tinha mudado no encontro com o leopardo e disparei. Só no momento do tiro é que me apercebi que o animal que ia tentar abater era um facochero!

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Facochero, companheiros do Ventor mas sempre em fuga

Eu não ia disposto a fazer fogo sobre perdizes ou fosse o que fosse mas aquele bruto terá feito tudo para me apanhar à passagem e eu iria fazer tudo para que ele se arrependesse!

Buuuuuummm! Ele ia entrar no mato depois de passar alguns metros de rapada à minha frente e não deu tempo para me esmerar na pontaria e vi que ele foi atingido no quarto direito, mais ou menos a meio, devido à guinada que deu mas, a corrida continuou por entre o mato e penetrou na floresta galeria perdendo-o de vista. Ao som do tiro, os cães saíram do mato em minha direcção e foram atrás do facochero mas, não passou, para eles, de "era uma vez" ...

Chamei os cães de volta e os meus companheiros de caminhada aproximaram-se de mim em correria a perguntar sobre o que fiz fogo. Contei-lhes a peripécia e limitaram-se a olhar os cães que estavam tontos com o cheiro do facochero e com o som bruto de um tiro. Dirigi-me ao local onde atingi o facochero na esperança de encontrar sangue, mas nada! Que ele levou chumbada eu tinha a certeza mas, também, apesar de ser perto, não tive tempo para lhe dar o segundo tiro, pois ele largou o baixio e entrou no mato seguindo para outro local baixo e nunca mais o vi.

Eu nunca me atrevi a ir só, sem os cães, para procurar este tipo de animal africano mas, muitas vezes pensei em fazer isso, no entanto, os cães, eram uma companhia perfeita para um alerta mais completo e, como muitas vezes ia só, sem mais ninguém, a companhia dos cães era para mim mais que desejada e nunca esqueço o Zorba, a Diana, o Bolinhas e depois a outra Diana (ainda cachorrinha), filha da Leoa que foi levada de Vila Cabral para Marrupa e, por vezes, as caminhadas eram tão grandes que, durante espaços razoáveis, tinha de a levar ao colo. Eles foram meus companheiros de caminhadas, sem fim, durante oito meses e meio.

Mas alguns dias depois da investida do facochero, outra rapaziada no helicóptero, um Polícia da Força Aérea, disparou um ou mais tiros de G-3 sobre um facochero que, ferido, com os intestinos de fora, caminhou, pelo menos, cerca de 3 kms até cair exausto. Eu dirigi-me ao helicóptero e observei o bicho e até lhe tirei fotos e ao olhar o local onde julgava ter acertado com os zé-galotes, no tal de há dias atrás, reparei que, aquele animal era o mesmo que me tentou empurrar para o lado, pois tinha as marcas que os zé-galotes lhe deixaram na perna. Eram três sulcos de raspão na pele da perna e era, sem dúvida, aquele o magano que quis atirar-me para as calendas.

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 O facochero

Os facocheros são animais poderosos que atingem 90 cm de comprimento (cabeça e tronco), 75 cm de altura no garrote e um peso que vai até 80-95 kg. Eles têm uma cabeça gigantesca e as suas presas chegam a atingir, acompanhando a curva, cerca de 60 cm, embora, na generalidade, meçam cerca de 30 cm.

O facochero é um animal da savana, embora se veja muito nos bordos dos bosques, especialmente, em zonas lamacentas, junto a florestas galerias, em grandes varas, pastando ajoelhados no chão a apanhar raízes e tudo que lhes sirva de alimento. Eles têm as joelheiras das pernas anteriores, por baixo das articulações, calejadas e, embora já nasçam com essa zona calejada, com o caminhar do tempo ficam mais duras. Tudo, ou quase, cria as suas especializações para sua defesa e estes não são excepção mas, os animais que os caçam, também se especializam nas suas caçadas.

Os leões, por exemplo, para apanhar os facocheros, organizam-se em estafetas para os caçar. Assim, o primeiro leão, normalmente são as leoas, ataca-o durante um determinado espaço e, depois, passa a estafeta a outro ficando o primeiro a descansar e continuando o segundo na corrida que, depois, larga para um terceiro e este, depois, para um quarto e assim, sucessivamente, até o animal ficar completamente cansado e exausto quando, um último leão, folgado, o vê sem forças para reagir e o ataca para matar.

Mais tarde, em Vila Cabral, também eu me tentei especializar na procura de grupos de facocheros mas foi trabalho infrutífero. Mesmo caminhando contra o vento para evitar que eles me cheirassem, eles arranjavam sempre maneira de se afastarem de mim. Estes animais são omnívoros, alimentam-se de raízes, frutos, cogumelos, larvas de insectos, pequenos vertebrados e até serpentes. Havia na zona de Vila Cabral, uma lângua onde corria alguma água e formava extensões de lamaçais em cujas margens havia, também, grandes extensões de matagais que mais pareciam extensos silvados, no meio dos quais eles se escondiam e tinham as suas tocas de refúgio. Era impossível penetrar naquela zona e nem os cães lá conseguiam ir. Cheguei a ouvir os barulhos desses animais mas nunca os conseguia ver. Eles penetravam na mata densa e apenas diziam, "adeus Ventor"!

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  Facochero ou warthog

Mas nas minhas caminhadas atrás dos facocheros, mais que o objectivo de tentar caça-los, era tentar vê-los bem de perto e observa-los. Nessa zona de Vila Cabral, olhando sobre o local que lhes servia de esconderijo, eu tive oportunidades de ver os "pôr-de-sol" mais lindos da minha vida e enriqueci a minha passagem por África, muito para além das sequências dos chamados "jogos de guerra"».




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral