Faz hoje 51 anos
Faz hoje 51 anos que, pela última vez, me despedi de Nova Freixo (actual Cuamba), no distrito do Niassa, em Moçambique.
AB6 em Nova Freixo, no Distrito do Niassa
Era o fim da minha comissão no Niassa, em Moçambique, já iam 26 meses. O fim da minha comissão e de mais 17 mangas que o nosso comandante prometera que sairíamos logo no primeiro transporte que houvesse para Nampula, mesmo que não fossemos substituídos. O primeiro transporte era o avião que levou a Nova Freixo o General Kaúlza de Arriaga com para-quedistas e acompanhado dum heli-canhão.
Nos últimos dias as coisas começaram a complicar-se e preparava-se um ataque na fronteira com o Malawi a homens da Frelimo que estavam a invadir Moçambique, rumo a Nova Freixo. Eles atravessavam em pirogas pelo lago Chirua. Nós, os felizardos que iríamos partir para Portugal oferecemos-nos voluntários para ficar. Já pela tardinha, com tempo apenas para chegarmos a Nampula com dia, caminhamos para o avião Nord-Atlas que nos transportaria para Nampula, divididos entre o querer partir e o não querer deixar os nossos companheiros numa embrulhada.
O nosso Comandante Araújo disse-me: "sou um homem de palavra. Prometi e vou cumprir. Se não forem substituídos rapidamente eu serei mais um, mais não seja, sei arquivar mensagens. Portanto, ajudarei. Desejo-vos um bom regresso a todos, bem o merecem". Fui o último a entrar no avião. Um Capitão piloto que comandava o avião gritava da porta: "ou vem ou fica"! Ainda alguém me gritou. As medalhas, pá! «Que se lixem as medalhas». Foi assim que eu me despedi de Nova Freixo.
Momentos antes, tinha deixado o Capitão Rita André a chorar no T-6 que pilotava sobre o lago Chirua porque, em nome dos meus 17 companheiros de caminhada, lhe disse que "iríamos ficar mais o tempo que fosse necessário", não os iríamos deixar nas condições que se avizinhavam.
"Vão rapazes, que Deus vos dê a sorte que todos necessitamos. O Lobo tinha razão, vocês foram dos melhores companheiros que nem imaginava que existissem. Que Deus vos acompanhe e que olhe por nós também."
Dos companheiros que me acompanharam na saída de Nova Freixo, alguns, infelizmente, já morreram, outros ainda andarão por aí. Para eles, os que já foram e os que ainda estão, o meu abraço.