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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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02.10.16

Sonhei com Marrupa, mais uma vez


Quico e Ventor

Uma noite destas, dei uma das minhas caminhadas de sonhos, por Marrupa. Pois foi! A sonhar, voltei a pisar uma lângua de Marrupa e, ainda por cima, sonhei com uma lângua onde só caminhei uma vez.

Algures, em 1968, caminhei mais três amigos numa lângua de Marrupa e, um deles, era o nosso amigo Coutinho, do Bombarral. Os outros dois não me recordo. Penso que um deles, seria o nosso amigo "Louco do Amor". O Coutinho, infelizmente, já está junto ao Senhor da Esfera mas, o Louco do Amor, ainda poderá andar por aí. Espero que sim.

Saímos de Marrupa e, ao entrar na picada, viramos à direita, em direcção a leste. Já um pouco afastados do AM62, entramos pelo mato dentro e, de seguida, numa lângua. Espalhamos-nos os 4, um pela direita, outro junto à zona da água (o Coutinho) um mais afastado à esquerda da lângua e eu, como sempre, mais à esquerda e tentando fugir a uma queimada, afastei-me ainda mais. Essa história está contada aqui.

Em 1970, conheci um homem que era cunhado daquela que viria a ser minha companheira das minhas caminhadas. Entrei no carro dele e ele perguntou-me onde eu estivera, em Moçambique. Disse-lhe que estive em Nova Freixo, em Marrupa e em Vila Cabral mas, quando ouviu falar em Marrupa, os seus olhos brilharam mais.

"Esteve em Marrupa, é? Eu também estive nessas terras, mas estive mais tempo em Marrupa. Era dos Comandos e estivemos em Marrupa a guardar a malta que construiu a pista. A maioria do tempo andávamos à caça. Nunca viu elefantes em Marrupa"?

Nem um, respondi eu. "Pois não. Nós também nunca mais vimos nenhum. Apareceram lá três e matámos-os. Nunca mais vimos nenhum. Creio que nunca mais ninguém verá elefantes em Marrupa"!

Esse homem foi há dias chamado perante o Senhor da Esfera onde nos esperará. Foi o seu funeral e eu só me recordava dessa nossa conversa de 1970. Tinha-me dito, mais ou menos, onde estariam as ossadas dos elefantes, mas Marrupa ficara para trás e as ossadas dos elefantes eu nunca as cheguei a ver. Mas foi baseado nessa conversa e nesses pixeis da minha memória que voltei a Marrupa, em sonhos. Não éramos quatro mas fui lá eu sozinho. Exactamente o mesmo sitio, mas sem queimada. Caminhava na encosta da esquerda a recordar a jibóia e essa nossa caminhada, perguntando-me a mim mesmo porque nunca mais lá regressei.

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Um rineceronte como o do meu sonho

A encosta era linda, toda verde e eu caminhava a pensar onde estariam as ossadas dos elefantes. Virei-me para trás e estava a ser acompanhado por um rinoceronte. À minha direita havia umas rochas que tenho a certeza não estavam lá quando da caminhada real. Olhei o rinoceronte e ele acelerou para me atacar. Pensei rápido! Não me vale a pena fugir. Vou enfrenta-lo, não vou fugir. Se fujo canso-me e depois não posso lutar. Esperei o rinoceronte que se deslocava em alta velocidade na minha direcção. Quando ele me ia marrar, quando quase me pegava, saltei para a esquerda. O rinoceronte estatelou-se todo pelo chão fora. Eu iniciei uma grande corrida para as rochas, enquanto ele se levantava para me pegar.

Alcancei as rochas, subi para a mais alta deitada sobre outras. Vi um grupo de leões, cerca de uma dúzia, a caminhar em nossa direcção, com os olhos fixos no rinoceronte. Creio que eles a mim não me viram e eu, no topo das rochas, tentava colar-me à pedra fria, com a arma segura sob o meu peito para os leões não me verem. Dali, vi os leões atacarem o rinoceronte, mata-lo e come-lo. Ficou a coluna óssea do rinoceronte na paisagem. Os leões partiram pachorrentos, com toda a calma deste mundo. Perdi-os no horizonte e comecei a procurar como sair dali. Olhava em direcção da picada, campo aberto, sem nada. Olhava a lângua onde o Coutinho matara a jibóia, as árvores onde cortei a fita para prender a jibóia ao pau e no mesmo sitio estava algo que seria um tronco ou, quem sabe, outra jibóia! Estava mesmo com medo de como sair dali. Não me atrevo a ir pela lângua e entrar na floresta. Decidi ir direito à picada e enfrentar o que aparecesse. Pelo lado da jibóia é que não!

Mas não cheguei a sair das rochas. Acordei apavorado na minha cama. Sei é que iria tomar a direcção da picada, por campo aberto, com a browning bem colada às mãos.

Contei o sonho a um amigo dos que andaram por lá comigo, e informou-me que ele, nas suas caçadas, tinha visto, por lá, as ossadas dos elefantes.




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral