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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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18.07.14

T-6 (Texano 6)


Quico e Ventor

Um dia, caminhava o Ventor nas suas Montanhas Lindas a levar as vacas para a Corga Grande, em Adrão. Teria, então, entre 10 e 12 anos.

Era um dia de Abril muito quente. As vacas, caminhando no monte, por fora do caminho, dentando aqui e ali algumas ervas ou carrascas, enquanto eu ia com a vista fisgada num sítio, por cima do caminho onde, de vez em quando, observava um grande sardão todo verde com a cabeça azulada. Caminhava eu com uma pedra em cada mão e vara debaixo do braço e, sobre uma rocha mais baixa, ao lado de outra maior, já observava a cabeça do sardão.

Eu estava disposto a enviar uma pedra de arremesso contra o sardão mas pouco mais via que uma parte da cabeça. Por fim, tão curioso como eu, o sardão, para me ver, começou a mostrar-se mais. Eu ainda estava afastado e ia-me aproximando lentamente do local onde o sardão apanhava sol ao mesmo tempo que me ia observando.

De repente, desce, vindo do Planalto da Naia, com o motor roncando pela Corga Grande abaixo, um brinquedo destes a que mais tarde viria a chamar T-6, uma máquina que foi, para nunca mais esquecer, minha companheira de guerra.

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 A pintura de um T-6 no Restaurante Terminal, em S. Jacinto

Eu que nunca tinha tido um brinquedo a não ser os que eu fazia (carrinhos de cortiça e outros), vi passar sobre a minha cabeça um dos mais belos brinquedos com que o mundo me brindara. Lá dentro, não me recordo bem, levava pelo menos uma pessoa. Ao passar junto de mim, o piloto inclinou o avião para me observar a mim e às vacas, seguindo pelo vale abaixo bastante baixo, passando sobre Adrão, rumo ao rio Lima. Fiquei extasiado com tudo aquilo que nunca tinha visto, pois quando passavam aviões sobre Adrão, seguiam sempre muito altos e seriam sempre aviões comerciais.

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Foi nesse caminho do lado esquerdo da foto. Belos tempos, talvez 1957-58

Aquele brinquedo fez tamanha faísca no meu cérebro que creio ter sido ele o meu passaporte para a Força Aérea.

Passei 23 meses e meio na Base Aérea 2, na OTA e na DSCTA, em Lisboa mas, só voltei a ver um T-6 como aquele em Adrão, anos depois, em Nacala, no Norte de Moçambique, no dia 25 de Janeiro de 1968, quando ele, com furos de balas (feitos na zona de Mueda), fez uma passagem baixa sobre o navio Niassa já encostado no Porto de Nacala, a desejar-nos as boas vindas. Um Nord-Atlas e um T-6, foram os embaixadores da Força Aérea a dar-nos as boas vindas, voando inclinados junto aos mastros do navio Niassa e sobre nós. Os roncos dos seus motores pareciam dizer-nos: "bem-vindos ao palco da guerra"! A primeira coisa que fizemos à chegada ao AB5, em Nacala, foi ir cumprimentar aquela bela máquina furada pelas anti-aéreas da Frelimo.

No dia 31 de Janeiro de 1968, cerca da meia noite, entrei eu e outros no AB6 e, quando saímos do Hangar e nos dirigimos para o Bar para comermos algo pois estávamos cheios de fome, vimos alguns T-6 lado a lado que no meio do escuro, mais nos pareciam fantasmas do meu brinquedo maravilha.

No dia seguinte de manhã, já em plena luz do dia, lá estavam eles alinhados. Até pareciam que faziam a sua apresentação àqueles que, durante dois anos e tal estavam prontos a conviver com eles e, se necessário, a dar a vida por eles porque eles iriam fazer parte de nós.

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No hangar do AB6 quando saíamos pela sua porta, lá estavam os nossos companheiros de metal. Constou-se que, mais de uma vez, viram leopardos junto deles. Este lá vai cruzando os céus de Moçambique

Entrei pela primeira vez dentro de um T-6, em Nova Freixo, no AB6, quando rumei a Marrupa, em 6 de Abril de 1968. Quando o piloto me mostrava, com o T-6 invertido, o monte Mitucué, em Nova Freixo, eu via a Corga Grande, o sardão, as minhas vacas, os carvalhos lá em baixo, e não aquele rochedo que nunca mais acabava. O meu segundo voo de T-6, foi sobre a serra Mecula, o rio Lugenda e sobre parte da margem direita do Rovuma, na zona da confluência do Rio Lugenda. Depois de Adrão, fartei-me de ver T-6 mas não enjoei! No Restaurante Terminal, em S. Jacinto, ao ver esse T-6 pintado na sua parede anos depois de ver T-6 vezes sem conta, fiquei tão extasiado que me parecia voltar a ver o meu brinquedo nos céus de Adrão.

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Um T-6 americano sobre Jacksonville ( foto tirada da minha amiga Wiki)

PS. Estes aviões T-6, eram os aviões de instrução das forças armadas americanas, já em 1936, e continuou pelos anos fora. Os Estados Unidos possuiam 1.200 T-6 em 1941. Após o ataque a Pearl Harvor, o presidente Roosevelt, mandou construir aviões e, terá dito numa reunião com os Estados Maiores Americanos, que queria que mandassem construir 50.000 T-6 para dar caça aos japoneses.




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral