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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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22.06.06

A Senhora do Lago ...


Quico e Ventor

... e a traição do Sael.

Oiçam esta história que o Ventor me contou.

Algures em África, numa zona verde cheia de água, onde predominava um lago com zonas pantanosas, em volta e, perante essas águas, havia fartura de tudo! Capim verde, arbustos e árvores! Nas suas margens pululava toda a fauna selvagem lá da zona. Os elefantes iam lá tomar banho e beber nas suas águas límpidas, os búfalos chafurdavam-se nos lamaçais das suas margens, as gazelas, impalas, gnus (bois cavalos) e toda a gama de mamíferos imaginados por ali, se acercavam das águas e dos campos verdes, em volta - era a lângua!

Nos seus arredores, leões, leopardos, hienas, cães selvagens. Era a terra prometida, junto à savana, onde predominava a família do Newky!

Porém, lá no seu interior das águas mais profundas e por entre os caniçais, passeava-se a Senhora do lago! Ela era gigante, robusta, poderosa! Feia ou bela, conforme as opções de cada um, mas era ela que impunha a ordem naquele lago! Era uma grande jibóia - a Senhora do Lago!

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A Senhora do Lago
Foto tirada da Wikipédia
 
Ela é terrível e mete respeito a toda a gente que a consegue olhar, até ao Ventor. É mesmo a Senhora do lago!
 

Cada vez mais, à medida que caminhamos para sul, a África vê as suas savanas transformarem-se no Sael e este em deserto!

Cada ano, a desertificação é mais evidente e as "Senhoras dos Lagos" e todos os seres vivos sofrem!

Sempre que a sede apertava os "changos" iam à água matar a sede, sempre alerta, em relação aos seus predadores naturais, mas a fome que por vezes acometia a Senhora do lago, tornava-a num terror bem maior que os leopardos e as chitas! Acossada pela fome, ela saía de dentro da água e zás! Enrolava-se como uma camisa-de-forças sobre o bicho que estava a jeito e os outros animais pressentiam o terror sem o ver. A Senhora do Lago penetrava água dentro, tal como tinha saído. A sua vida era bela, pois vivia numa terra farta e fazia tudo o que queria e todos a temiam!

Mas a Natureza, por vezes, torna-se madrasta e o ontem deixou de o ser e o hoje já se está a tornar na diferença e, essa diferença, aconteceu no grande lago! Durante uns anos, penso que sete, as águas foram secando porque as chuvas afastaram-se para longe e, em volta do lago, as zonas que eram pantanosas passaram a ser preenchidas de lamaçal que, com o tempo, foi-se tornando em rocha dura. No interior dessa rocha lamacenta, os animais continuavam a beber da sua água que continuou estanhando e ficando peganhosa, cheia de mosquitos e lixo e mais se parecia que o mundo se preparava para acabar!

No seu interior, continuava fazendo a sua vida, já um pouco degradada, a Senhora do Lago! Por enquanto, os animais que lhe alimentavam o corpo continuavam a aparecer junto do charco e ela continuava a ter as suas refeições, mas os peixes já afogavam expostos ao ar, enquanto as aves de rapina começavam a ter uma vida melhorada. Os abutres estavam na conquista de novos espaços, de um novo reino. A decadência de uns é caminhada próspera de outros!

O calor aperta e a secagem do resto da água, acelera-se. A Senhora do Lago fica com a sua vida reduzida a um minúsculo poço!

 

O Sahel avança para sul e à sua frente varre florestas, savanas e lagos. E, tanto quanto me parece, ninguém faz nada para evitar ou atenuar esse avanço

Foto da Wikipédia da autoria de Bgabel. This file is licensed under the Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported, 2.5 Generic, 2.0 Generic and 1.0 Genérico license.

Os outros animais já lá não vão, foram à procura de novo lugar com água, pois a Senhora já não tem onde se esconder, está bem à vista, mas as forças que faziam dela um poder muscular sem igual, sumiam-se na desertificação daquela zona que já tinha sido um maravilhoso oásis!

O poço reduz-se e começa a ficar  com margens lodosas e escorregadias. A Senhora do Lago começa a ficar sem espaço e decide sair do seu pequeno cubículo. Começa a tentar tirar a cabeça do lamaçal mas, as margens do poço são cada vez mais escorregadias devido ao seu peso que tritura e transforma a lama numa coisa viscosa de onde nunca mais sairá!

A partir de uma determinada altura a vida que comandava aquele lago, começou a desistir daquilo que não era capaz. Partir para o campo aberto! Ela está presa na sua própria armadilha! A grande Senhora sente-se esmorecer e apodera-se dela o estertor da morte. grita como gritam todas as criaturas desesperadas e desprotegidas. Continuam a gritar, se calhar pela sua mãe como qualquer de nós faria nas mesmas circunstâncias e os sons por ela emitidos eram horrorosos! Todos os horrores do mundo se abatem sobre uns restos de lodo e lama e um animal gigante que sabe que chegou o seu fim!

A lama ficou pedra e abraçou, no seu seio, um corpo definhado a dar os últimos suspiros de vida. Para sempre ficou cravado no lamaçal, o corpo inerte da Senhora do Lago!

Isto é uma história verdadeira e horrorosa e que nos leva até a pensar, seriamente, nas hipóteses de vida que a natureza nos dá e nos tira, tão de repente! E, também como se não bastasse ser a natureza a pregar-nos partidas, quantas vezes somos nós, seres racionais, a encarregarmos-nos disso! Esta história desenrola-se no decorrer da secura da África do Sael do nosso tempo!




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral