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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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Ventor entre as Flores

19.04.06

Rios de Som


Quico e Ventor

Em Tempos de Guerra

Diz-me o Ventor e eu sei disso, pois sou obrigado a ouvir música com ele:

«Sempre fui um atento ouvinte de músicas. Belas músicas! Normalmente, não fixo os nomes dos muitos autores, dos muitos cantores, dos muitos músicos, das muitas empresas gravadoras. Excepcionalmente o faço. As músicas têm de entrar nos meus ouvidos e ficar por lá.

Uma vez entrei numa janela da Net e, no meio de muitas coisas boas, encontrei um tema que se chamava Rios de Som e a que achei muita piada. Caminhei algum tempo entre esses amigos que, por sinal, directa ou indirectamente, me ajudaram a recordar os meus Tempos de Guerra.

E isso fez recordar-me que, pelos meus Tempos de Guerra, também passaram muitos Rios de Som que eram expelidos dos Hamarlunds da Força Aérea, uma extraordinária companhia. Lembro-me de, pelas noites dentro, sintonizar a Rádio Nova Iorque, em ondas curtas, que tinha uma emissão para a América Latina, em espanhol e que, eu, sempre que podia, conseguia ouvir em Moçambique e, pela Rádio Nova Iorque recebia beijinhos de estudantes de várias universidades americanas, da Íris, a minha Companheira de Guerra e de algumas das suas amigas da Universidade de S. João de Porto Rico que atravessavam o éter cheios de Rios de Som. Estes beijinhos eram, apesar de tudo, para o Ventor e para a Força Aérea Portuguesa, no norte de Moçambique. Elas telefonavam para a Rádio Nova Iorque e os locutores encarregavam-se de fazer o resto.

Aqui Rádio Novaiorque! - lá vinham eles! ...

Nos Hamarlunds da Força Aérea, corriam os nossos Rios de Som que, algumas vezes, eu colocava nas cabinas dos pilotos para descomprimirem das agruras da solidão, nos mais belos céus do mundo e, por vezes, os mais temidos também, pelos seus gigantescos cúmulo-nimbos, por vezes mais negros de que a própria África, ajudando assim, no regresso à nossa Lápide de Arame Farpado.

Obladi, Obladá, Hey Jude, Love me do, Penny Lane, All you need is Love, Let it be, Get Back, ... dos Beatles. Reach out, I'll be there, dos Four Tops (uma música das minhas favoritas que utilizei como lema), My Sentimental Song, for my Sentimental Friend, Let him live, ... e, tantas outras! Se isto para muitos de vocês é fuleiro (?), para mim, são Rios de Som que me alegram a alma, que me movem no passado, no presente e no futuro.

Ao ouvirem em plena campanha aérea, o Obladi, Obladá, que partia do nosso centro de operações e entrava nas suas cabinas,

Dizia um piloto - Rima e rimará!

Dizia outro - na nuca do papá!

Ao meu lado, alguém alvitrava:

"Estes, mal aterrem, vão levar já com uma participação, em cima"! Dizia o Clark Gable.

"Não posso admitir coisas destas, senão, sobra para mim"!

Era assim que chamávamos a este Tenente Coronel. Olá, Clark Gable!!!!

Sem música, pode informar o Comando Avançado, que vão fazer a guerra sózinhos!

Quando o Clark Gable, vê no seu estilo de pai macabro, um piloto rodesiano (para os menos atentos, nós também ensinamos os outros) correr para mim, para me perguntar quem era o piloto do avião X e eu lhe disse. "Goldfinger" e apontei-o, o Clark Gable vê o rodesiano abraçado a mim a gritar que éramos extraordinários, que nunca imaginara nada assim e vai a correr abraçar-se ao Goldinger, cheio de alegria espontânea, o nosso Clark Gable, virou-se para mim - são mesmo! Vocês são mesmo extraordiários!

Todos num só, quais mosqueteiros! Obladi, Obladá!

Grita o Clark Gable: "os cornos do papá"!

A guerra continuou de noite e de dia. Cada um a travava conforme os planos traçados ou, conforme as contingências do momento. De Marrupa, voltei a Nova Freixo, de Nova Freixo, parti para Vila Cabral (actual Lichinga). Aqui estive mais seis meses e meio. Seis extraordinários meses e meio! Caminhando a meu lado, sempre a Íris que, entretanto, arranjara um namorado, mais um que começou a acompanhar o nosso trajecto e que poderei chamar, também, Companheiro de Guerra porque nunca se opôs que a íris continuasse a sua correspondência comigo por longos meses e que, mais tarde acabou por casar com ela.

Regressei a Lisboa onde recebi uma carta da Íris a dizer-me que acabara o curso dela e que tinha sido pedida em casamento. Desejei-lhe felicidades e terminamos a nossa correspondência como bons amigos que fomos, durante muito tempo. Ela acabou o curso e ia casar, eu acabei a guerra e ia procurar emprego. Terminaram as razões que nos ligaram mais de quatro anos. Darmos a conhecer os nossos mundos, um ao outro. No entanto, reconheço hoje que foi uma pena termo-nos perdido para sempre. Fomos mudando de vida, mudando de locais e fomos-nos adaptando a novas realidades.

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Uma rosa chamada íris

A íris, tinha sido uma verdadeira Companheira de Guerra! Posso muito bem recorda-la como uma rosa».




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral