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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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Ventor entre as Flores

08.11.05

As Zebras


Quico e Ventor

As belezas listadas

As zebras - segundo a visão do Ventor

As zebras são animais lindos e encantadores que animam os olhos de quem as possa apreciar em plena savana africana misturadas com os gnus, seus companheiros de caminhada, ou mesmo nos Jardins Zoológicos, onde enchem de alegria a pequenada e os seus avós. Apesar de serem animais belos e que nenhum mal fazem ao homem, o espírito assassino deste, tem procurado dar cabo delas e as gerações futuras só poderão continuar a apreciá-las se as gerações presentes soubessem preserva-las e mantê-las para herança dos seus filhos.

O mesmo se poderá dizer de todos os outros animais, incluindo o homem, que vagueiam nesta bola giratória enquanto os elementos o permitirem. Basta dedicarem-se um pouco à Astrofísica para se aperceberem do perigo que todos corremos. O Ventor, por exemplo, anda coxo e, segundo ele me contou, só um raio cósmico o poderá ter atingido na barriga da perna deixando-o a pão e laranja.

Mas ele até é capaz de ter razão. Os raios cósmicos andam aí a fazer fogo ao alvo e são um perigo permanente. Para além desses perigos permanentes temos ainda outras possibilidades de ficarmos tão mal na nossa Caminhada pela nossa Via Láctea que podemos desaparecer num ápice. Vejam o que dizem os cientistas. Há mais de 100 milhões de buracos negros na esfera conhecida e a confusão é tão grande que podemos imaginarmos-nos presos por araminhos, sempre prontos a rebentar. Vejam a seca que nos está a atingir! Diz o Ventor que acredita que sejam coisas do Marduk, porque ele anda aí! Este Marduk, é aquilo a que os cientistas chamam o Planeta X ou "décimo planeta". Pensa o Ventor que pode ser aquele de que ele vos fala na Mesopotâmia! Mas se é, está tudo lixado! Juntando a isto a ambição desmedida do homem, ficamos pendentes do improviso.

Mas continuemos com as nossas amigas zebras. Elas embelezam, de facto, as savanas!

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 São uma beleza estas amigas do Ventor

O Ventor diz que, lá em Moçambique, só viu as zebras do ar, quando o avião "caminhava" por cima e elas caminhavam por baixo. Isto acontecia mais quando estas máquinas desciam um pouco deixando os animais atormentados com o barulho desenfreado daquela coisa metálica que, de vez em quando, os incomodava quando aparecia, de repente, nos céus do seu mundo. Mais precisamente, nos céus do Revia e do rio Lugenda onde se podiam avistar boas manadas de zebras e bois cavalos (gnus). Por isso o Ventor tem vontade de voltar a África, ao Moçambique, ao Lugenda!

Mas o Ventor diz que recorda e nunca esquecerá os seus gritos que se fazem ouvir lá longe, na savana. Havia, em Marrupa, uma lângua que se dirigia para ocidente e bastante afastada da nossa zona, do AM62, talvez uns 15 kms, haviam perus selvagens, segundo lhe diziam. Mas o Ventor, que se fartou de trepar esses quilómetros, diz que via realmente aves grandes mas que para ele não passavam de abutres e, ainda hoje, quando a refeição calha peru, diz: "vamos ao abutre"!

Na verdade, à custa dos perus selvagens, ainda hoje, o som típico das zebras anda nos ouvidos do Ventor. Segundo o Ventor e eu acredito nele, o som mais característico dos animais, em África, é o arrulhar das rolas e os estridentes gritos das zebras. Quando nessa lângua de Marrupa os chamados perus selvagens fugiam à frente do Ventor e dos seus amigos, ouvia-se, lá longe, ainda à frente dos perus, o característico grito das zebras a que não podemos chamar relinchar!

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Os animais de grande porte, são todos das savanas

Mas as zebras têm uma boa corrida (65 kms por hora) e, quando se apercebem da presença do homem, vão-se afastando sempre e só com um todo o terreno são alcançáveis. Era sempre muito longe que os caçadores profissionais apanhavam os bois cavalos (gnus) que vendiam para serem comidos por pretos e brancos, como para o Exército e a Força Aérea. As carnes que o Ventor e os amigos comiam eram, quase sempre, de caça, como boi cavalo, facochero (uma espécie de javali africano), galinhas do mato, changos (várias espécies de antílopes) e outros.

A propósito de corridas, a velocidade da zebra está cotada em 65 kms/hora, enquanto que a cotação do gnu é bastante mais elevada, 80 kms/hora e como andam sempre juntos, sendo a velocidade do leão de 80kms/hora também, é caso para pensar se, como dizem alguns especialistas, o leão prefere a carne da zebra à do gnu por ser mais saborosa para si ou se será de facto por ter mais possibilidades na caçada? Se calhar é as duas coisas!

Mas voltando à conservação das espécies, diz o Ventor que merecem grande apoio todos aqueles que, de boa fé, tudo fazem para manter, junto de nós, estes belos animais listados. Todos sabemos que os homens tal como todos os outros animais, aprendem com os seus erros. E tem sido baseado nos muitos erros cometidos pelos homens que, muitas das espécies têm desaparecido do nosso convívio. Aqui foco apenas o extermínio das zebras sul-africanas. Segundo os homens amigos do Ventor que zelam pela estabilidade e harmonia de todos os nossos companheiros em vias de extinção, a África do Sul tinha tudo para ser um verdadeiro paraíso na Terra.

Tinha uma grande riqueza de fauna, uma paisagem harmónica e um clima excelente o que fazia deste canto do nosso Planeta uma maravilha para os animais selvagens, incluindo-se as zebras. Mas os colonizadores boers que terão sido um grupo de gente inculta e egoísta, como todos os que atingiram as costas de África, ao penetrarem para o interior do Veld encontraram uma região rica em animais selvagens, cheia de espécies de zebras, manadas de elefantes, girafas, rinocerontes brancos, antílopes, etç. e logo começaram  a chacina!

Os animais selvagens africanos, bem como homens, os Bosquímanos, foram exterminados com a mesma fúria de homens insensatos e hoje, uns e outros, encontram-se quase exclusivamente em parques nacionais.

 

A quagga deixou-nos para sempre

As zebras quaggas, era assim que os hotentotes lhe chamavam, existiam em grandes bandos pelo Veld onde os colonizadores queriam instalar as suas granjas e por isso, na sua óptica, teriam de as abater o que fizeram até lhes acabarem com a espécie, tendo sido morta, em Aberdeen, em 1758, o último exemplar selvagem. Só em alguns dos jardins zoológicos foram mantidos alguns exemplares, durante cerca de um século, morrendo a última zebra quagga, no jardim zoológico de Amesterdão.

Também a zebra da montanha, assim chamada por só viver nas montanhas no extremo sul da África, a mais parecida com o burro, estará quase extinta se é que ainda existe, pois em 1956 só haviam cerca de 75 exemplares no Parque Nacional da Zebra da Montanha, na Província do Cabo.

Como vêm, o nosso amigo Ventor ensina-me a olhar os nossos amigos selvagens com outros olhos e a preocupar-me com eles. Por isso, eu coloco aqui o que o Ventor me ensina para aqueles que gostam de saber muitas coisas e quando levarem os vossos filhos ou netos aos jardins zoológicos que se encontram por esse mundo fora, não se esqueçam de os ensinar a respeitar os outros animais selvagens.

Para isso, devem começar por os ensinar a respeitar os companheiros de casa! Cães, gatos (pois claro), pássaros, ratinhos e ... todos os outros. Por exemplo, nas touradas, onde o bicho homem teima em divertir-se com o sofrimento do touro, não os ensinem a ir lá. Deixem que a bestice humana termine por frustração, já que ninguém está com vontade de fazer uma lei que meta no bom caminho esses "calhaus" humanos também a passear-se entre nós que nos atingem furiosamente.




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral

08.11.05

O Facochero


Quico e Ventor

Outro amigo africano

Nas savanas africanas, diz o Ventor, coexistem facocheros, elefantes, leões, leopardos, chitas e um sem fim de animais. Hoje coloco aqui o que o Ventor me contou do facochero.

«Na mesma tarde que vi o leopardo, na rapada onde a água nascia, depois da peripécia, devido à hora, decidimos regressar ao Aeródromo pelo mesmo caminho que tínhamos levado. Cada um voltou no sentido inverso e eu, que na caminhada anterior era extremo esquerdo, passei, no regresso, a ser extremo direito. Após um bocado de trajecto, caminhávamos no silêncio, na perspectiva de encontrarmos perdizes, daquelas que voam de árvore para árvore que andavam por ali, porque a outra caça teria sido espantada com a nossa passagem.

Eu continuava afastado do companheiro mais próximo que seguiria à minha esquerda e, de repente, sinto um restolhar violento no mato à minha esquerda e sinto um bólide passar junto às minhas pernas que nem sei se deu para as encolher e saltar, à retaguarda, mas creio que foi isso que fiz. Ainda em desequilíbrio, apontei a arma que ainda levava com os zé-galotes que tinha mudado no encontro com o leopardo e disparei. Só no momento do tiro é que me apercebi que o animal que ia tentar abater era um facochero!

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Facochero, companheiros do Ventor mas sempre em fuga

Eu não ia disposto a fazer fogo sobre perdizes ou fosse o que fosse mas aquele bruto terá feito tudo para me apanhar à passagem e eu iria fazer tudo para que ele se arrependesse!

Buuuuuummm! Ele ia entrar no mato depois de passar alguns metros de rapada à minha frente e não deu tempo para me esmerar na pontaria e vi que ele foi atingido no quarto direito, mais ou menos a meio, devido à guinada que deu mas, a corrida continuou por entre o mato e penetrou na floresta galeria perdendo-o de vista. Ao som do tiro, os cães saíram do mato em minha direcção e foram atrás do facochero mas, não passou, para eles, de "era uma vez" ...

Chamei os cães de volta e os meus companheiros de caminhada aproximaram-se de mim em correria a perguntar sobre o que fiz fogo. Contei-lhes a peripécia e limitaram-se a olhar os cães que estavam tontos com o cheiro do facochero e com o som bruto de um tiro. Dirigi-me ao local onde atingi o facochero na esperança de encontrar sangue, mas nada! Que ele levou chumbada eu tinha a certeza mas, também, apesar de ser perto, não tive tempo para lhe dar o segundo tiro, pois ele largou o baixio e entrou no mato seguindo para outro local baixo e nunca mais o vi.

Eu nunca me atrevi a ir só, sem os cães, para procurar este tipo de animal africano mas, muitas vezes pensei em fazer isso, no entanto, os cães, eram uma companhia perfeita para um alerta mais completo e, como muitas vezes ia só, sem mais ninguém, a companhia dos cães era para mim mais que desejada e nunca esqueço o Zorba, a Diana, o Bolinhas e depois a outra Diana (ainda cachorrinha), filha da Leoa que foi levada de Vila Cabral para Marrupa e, por vezes, as caminhadas eram tão grandes que, durante espaços razoáveis, tinha de a levar ao colo. Eles foram meus companheiros de caminhadas, sem fim, durante oito meses e meio.

Mas alguns dias depois da investida do facochero, outra rapaziada no helicóptero, um Polícia da Força Aérea, disparou um ou mais tiros de G-3 sobre um facochero que, ferido, com os intestinos de fora, caminhou, pelo menos, cerca de 3 kms até cair exausto. Eu dirigi-me ao helicóptero e observei o bicho e até lhe tirei fotos e ao olhar o local onde julgava ter acertado com os zé-galotes, no tal de há dias atrás, reparei que, aquele animal era o mesmo que me tentou empurrar para o lado, pois tinha as marcas que os zé-galotes lhe deixaram na perna. Eram três sulcos de raspão na pele da perna e era, sem dúvida, aquele o magano que quis atirar-me para as calendas.

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 O facochero

Os facocheros são animais poderosos que atingem 90 cm de comprimento (cabeça e tronco), 75 cm de altura no garrote e um peso que vai até 80-95 kg. Eles têm uma cabeça gigantesca e as suas presas chegam a atingir, acompanhando a curva, cerca de 60 cm, embora, na generalidade, meçam cerca de 30 cm.

O facochero é um animal da savana, embora se veja muito nos bordos dos bosques, especialmente, em zonas lamacentas, junto a florestas galerias, em grandes varas, pastando ajoelhados no chão a apanhar raízes e tudo que lhes sirva de alimento. Eles têm as joelheiras das pernas anteriores, por baixo das articulações, calejadas e, embora já nasçam com essa zona calejada, com o caminhar do tempo ficam mais duras. Tudo, ou quase, cria as suas especializações para sua defesa e estes não são excepção mas, os animais que os caçam, também se especializam nas suas caçadas.

Os leões, por exemplo, para apanhar os facocheros, organizam-se em estafetas para os caçar. Assim, o primeiro leão, normalmente são as leoas, ataca-o durante um determinado espaço e, depois, passa a estafeta a outro ficando o primeiro a descansar e continuando o segundo na corrida que, depois, larga para um terceiro e este, depois, para um quarto e assim, sucessivamente, até o animal ficar completamente cansado e exausto quando, um último leão, folgado, o vê sem forças para reagir e o ataca para matar.

Mais tarde, em Vila Cabral, também eu me tentei especializar na procura de grupos de facocheros mas foi trabalho infrutífero. Mesmo caminhando contra o vento para evitar que eles me cheirassem, eles arranjavam sempre maneira de se afastarem de mim. Estes animais são omnívoros, alimentam-se de raízes, frutos, cogumelos, larvas de insectos, pequenos vertebrados e até serpentes. Havia na zona de Vila Cabral, uma lângua onde corria alguma água e formava extensões de lamaçais em cujas margens havia, também, grandes extensões de matagais que mais pareciam extensos silvados, no meio dos quais eles se escondiam e tinham as suas tocas de refúgio. Era impossível penetrar naquela zona e nem os cães lá conseguiam ir. Cheguei a ouvir os barulhos desses animais mas nunca os conseguia ver. Eles penetravam na mata densa e apenas diziam, "adeus Ventor"!

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  Facochero ou warthog

Mas nas minhas caminhadas atrás dos facocheros, mais que o objectivo de tentar caça-los, era tentar vê-los bem de perto e observa-los. Nessa zona de Vila Cabral, olhando sobre o local que lhes servia de esconderijo, eu tive oportunidades de ver os "pôr-de-sol" mais lindos da minha vida e enriqueci a minha passagem por África, muito para além das sequências dos chamados "jogos de guerra"».




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral