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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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10.04.12

Páscoa de 1968


Quico e Ventor

Encontros e desencontros da nossa caminhada.

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Companheiros de caminhada, senão no domingo de Páscoa de 1968, a maioria destes estaria lá, mas esta foto será posterior a Julho de 1968, data da chegada do "Manecas" a Nova Freixo
 
 
Tenho tido esta foto por aqui, como se fosse tirada no domingo de Páscoa de 1968, em Marrupa. Eu sei que, algumas vezes almoçávamos cá fora, debaixo do alpendre e isto, para mim, foi durante oito meses e meio. Um desses dias foi nesse domingo de Páscoa. Porém, a foto não é essa! Será outra que nem sei se ainda a terei. A foto a que me refiro, foi tirada com a minha máquina, uma laica que, de certeza, não gostou tanto de Moçambique como eu. Não se deu bem com o calor africano, com o pó, com os tombos e sei lá que mais. Rápidamente ficou inoperacional.
 
Mas nesta foto, está o nosso amigo, Pil. Av. Aleixo que o Senhor da Esfera levou antes de tempo. Como a sua filha Catarina me chamou a atenção, o nosso companheiro Aleixo, segundo rezam os seus documentos, terá chegado a Nova Freixo em Julho de 1968 e, como eu não acredito que os documentos estejam enganados e menos ainda os complementos informativos que a Catarina me deu, só me resta substituir a foto se tiver a outra. Se não tiver, esta ficará por aqui porque, simbolizará uma amizade que não foi construída nem se esgota num domingo de Páscoa com uma, duas ou três amêndoas.
 
Porém, tenho mais um dilema! Agora fico na dúvida se o Aleixo participou da nossa "batalha aérea" sobre o Lugenda, levada a cabo em Julho de 1968, durante 15 dias. Sei que estiveram presentes dois pilotos novatos, que partiram de Vila Cabral para Marrupa e sem a frequência do Rádio Farol de Marrupa.
Estavam quase perdidos na zona do Revia e pediram-me a frequência do Rádio Farol pela Rádio. Perguntei se estavam a brincar comigo e disseram-me que tinham grandes probabilidades de se perderem.
Nesse momento, o Tenente Coronel que comandava essas operações, destacado pelo Comando Avançado para tal, ele e o então Capitão Melo Correia assistiram à conversa pela rádio. O Ten. Coronel disse-me para não cair na tentação de lhes dar a frequência e que iria participar da incúria deles. Eu prolonguei a conversa, via rádio, sempre na brincadeira e consegui que eles apanhassem a frequência sem que os meus parceiros do lado se apercebessem.
 
Quando a coisa estava resolvida, virei-me para o "Clark Gable" (era assim que lhe chamávamos) o Ten. Coronel, e disse-lhe: "vê, como eles estavam na brincadeira"! O Cap. Melo Correia sorriu e, ainda hoje, tenho dúvidas se ele se apercebeu da minha marosca. Se se apercebeu, não me recordo de falarmos nisso. Mas ainda encontrei o Melo Correia, um bom homem, na Av. da liberdade, frente ao Estado Maior da força Aérea, no dia 25 de Novembro, então já como Coronel. Ele subia a Avenida da liberdade num carocha preto da Força Aérea e eu, vindo do meu trabalho, descia a pé a observar os pára-quedistas nas janelas do Estado Maior e no telhado. O carro preto parou, ele cumprimentou-me e disse-me: "lembra-se de mim? Não sei que lhe diga. Isto está muito mau! Se quiser, apareça em Cortegaça"!
Mas o Jaime Neves, resolveu o problema junto à RTP e eu esqueci Cortegaça! Isto foi no 25 de Novembro de 1975.
 
Escrevo aqui para manter as memórias actualizadas. Então fiquei admirado, como um homem que apenas estivera comigo durante 15 dias, em Marrupa, 15 intensos dias e, sete anos e quatro meses depois, me reconheceu numa avenida de Lisboa onde estivemos debaixo das armas dos pára-quedistas que tinham ocupado o edifício do Estado Maior da Força Aérea. Mas havia homens inteligentes, na Força Aérea Portuguesa de então! Eu também o conheci e a primeira coisa que fiz, foi olhar para os seus galões. Hoje não faço ideia nenhuma, quem eram os pilotos que partiram de Vila Cabral para se juntarem aos "Catataus", em Marrupa.
 
Mas volto à foto. Todos os que estamos nela, segundo a informação da Catarina, já somos, quase todos uns velhadas, em Marrupa e essa foto terá no mínimo, mais 3 meses para cima. Sendo assim, o nosso amigo Manecas, ainda era um "checa" e, por portas e travessas, foi fazer uma caminhada por Marrupa. Estivemos por lá tanto tempo que, para mim, era já na Páscoa. Mas não foi.
A única coisa que posso dizer-te Catarina, é que o teu pai, era um grande homem, um amigo verdadeiro e fez a sua vida militar, em Moçambique, parecida com a minha, sempre a brincar. Tanto quanto sei, pois estivemos juntos nos três sítios do Niassa, Marrupa, Nova Freixo e Vila Cabral, ele sabia que a vida seria mais fácil se a levássemos a sorrir e a brincar. Sorrindo, os que estavam junto de nós, teriam o seu "sacrifício" menos pesado.
 

Após 15 dias de assaltos com T-6 e PV2, sobre a zona do rio Lugenda e a dormir, entre a meia-noite e as quatro da manhã, era premente o descanso, na cadeira da guerra. Terei de um dia falar aqui do então nosso Capitão Mantovani que me encarregou de fazer tudo para coordenar os PV2 que sairiam de Nova Freixo, logo após eu carrilar para lá a informação meteorológica que o "sardinha" e o "carapau" me enviavam ao romper do dia, voando sobre o rio Lugenda
 
Mas a foto continua a dizer-me que tive sempre, junto de mim, os melhores dos meus amigos. Mesmo com os encontros e desencontros, da mobilidade da guerra, Marrupa será sempre o meu sítio de preferência. De lá nunca esquecerei todos os amigos que almoçaram e jantaram comigo nessas mesas. Nunca esquecerei, as minhas caminhadas loucas, na perseguição dos perus selvagens. Nunca esquecerei que rolei nessa pista, debaixo da metralha de companheiro nosso que o Senhor da Esfera quis que tivesse a altura mínima para não ser capaz de matar o Ventor e o outro amigo cabo-verdiano, o Melo, que gritava para mim que já não iria conhecer o filho que tinha nascido há dias, na Metrópole. Ainda fui eu que, saído debaixo de tanta fogachada, uma MG furiosa, fui ajudar o gajo que quase nos matou, na escuridão da noite com cerca de 3 kms nas pernas, para virmos pedir ao Comandante do Batalhão de Marrupa, para nos enviar uma Berlier para rebocar o Panhard para fora do lamaçal onde ficamos atolados. O Alferes dos Comandos e penso que o Coutinho, ficaram a guardar o Panhard, eu e o Melo, caminhamos na noite, entre a bicharada selvagem, para virmos tratar do desatolamento. Enfim, éramos uns "malucos" onde o mundo valia tudo ou não valia nada.
 
Obrigado Catarina por me tirares as dúvidas, sobre a foto. Alguns me confirmaram que era mesmo no domingo de Páscoa. Eu dizia para mim, que faltava lá o nosso amigo açoreano a quem chamávamos "porta-aviões" e achava muito cedo os quatro juntos, o nosso "Louco" que Deus tem, o Checa, o Coutinho e eu. Penso que o "Louco" e o "Checa" chegaram depois dessa Páscoa.
São pormenores muito complicados com tantos anos pelo meio. Mas juntos ou espartilhados, tivemos os nossos momentos bons e os nossos momentos maus, todos inesquecíveis, tal como as minhas três amêndoas.



O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral

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