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O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

O Ventor em África

Foi assim, em 1968, em Marrupa, no Niassa. Ficamos os dois frente a frente, envolvidos por um mundo dourado

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O Vexilóide de Alexandre Magno

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Marrupa 68: foi assim que ele me olhou


Na rota do meu amigo Apolo com o vexilóide de Alexandre Magno e o mreu Leopardo


Em áfrica, tudo é grande e belo. Podem ver aqui o meu menu africano



Um PV2. Havia destes no Niassa, em operação. Bom dia Tigres onde quer que estejam


Depois? Bem, depois ... vamos caminhando!

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Ventor entre as Flores

11.06.11

Para sempre, em Alfundão


Quico e Ventor

 

Foi assim, como estes, que tudo começou, em Janeiro de 1966, na Base Aérea 2, na Ota. As corridas não eram na praia, mas nas estradas ou no meio do pinhal. Era asim que entrávamos na belíssima vila de Alenquer e sofriam, os olhos que nos viam correr todos encharcados em suor. O pior era dar a volta e subir rumo à Ota. Os Chariots of Fire, de Vangelis, acho que ficam aqui muito bem, enquanto deixarem, para recordarmos os tempos que tivemos naquela terrível 1ª recruta de 1966. O Checa já apanhou uma mais suave.

"Ninguém bebe água!"

O Major Serra o nosso Comandante da Recruta que eu encontrei muitas vezes no comboio para o Rossio, dizia-me que a nossa recruta tinha sido a pior delas todas e, como achava que era demasiado dura, teve de fazer uma exposição à Direcção dos Serviços de Saúde da Força Aérea.


 

 

Companheiros de Guerra, amigos de sempre - no AB6, em Nova Freixo: Ventor, Checa e LM

 

Um amigo que nos deixou. Mais um!

 

 

O Senhor da Esfera retirou do nosso convívio, para sempre, o nosso amigo Rui Perestrelo mas ele continuará connosco

 

Quando alguém parte do nosso "espaço" ou nosso mundo, para outro espaço que, julgamos, nós, ser um "espaço definitivo", o nosso espaço, e tudo o que resta desse nosso mundo, fica mais estreito e mais triste.

 

 

A Gi, a nossa amiga Gi, o meu malmequer, continuará sempre a sorrir a teu lado. Ela chorou e quis arriscar ir dizer-te adeus. Eu é que não deixei. Nesta foto, só eu sei como ela estava doente, mas junto de ti e dos nossos amigos, ela arranjava sempre forças para nos animar

 

Mais triste, ainda, quando tivemos tempos de glória. Tempos de tristezas, tempos de alegrias mas, também, tempos de glória! Eram os tempos dos sonhos, os tempos em que não era proibido sonhar. Todos nós tivemos os nossos sonhos. Eram sonhos de esperança! A esperança de regressar, de voltarmos a estar com os nossos, a nossa família, os nossos amigos, os nossos cães, os nossos gatos, as galinhas, ... as namoradas ...

 

 

Tu também já estavas doente e bem doente, mas tentavas sempre partilhar as tuas alegrias e não as tuas tristezas

 

Mais tarde, após essas caminhadas de sonhos, do refazer das nossas vidas, voltamos a caminhar juntos, por grupos. Por aqui, por ali, havia de quando em vez, há, ainda, um grupinho, aqui ou ali, a tentar não deixar morrer esses tempos que por bem ou por mal, marcaram as nossas vidas, as vidas de todos nós. Eu falo pela malta do AB6 e dos seus tentáculos, os AM's (aeródromos de manobras), Marrupa e Vila Cabral. A malta da "guerra" do Niassa. A nossa malta da Força Aérea mas, também tenho, num recanto do meu sótão, os nossos companheiros de outras armas, como a tropa do Exército dos Comandos dos Sectores Alpha e Echo de Vila Cabral e de Marrupa, espalhados por muitos locais daquele belo território do Niassa, bem maior que Portugal. Talvez este nosso Portugal e próximo de mais meio. Também recordo os nossos companheiros da Marinha baseados em Metangula, no lago Niassa e de um ministro de Charles DeGaule, creio que o Schuman, dizer que só uma vontade férrea como a dos portugueses seria capaz de colocar aqueles instrumentos bélicos da Marinha, no Lago Niassa.

 

 

Nunca esqueceremos os belos dias em que foi possível partilharmos as alegrias de outrora e relembrar amigos não presentes, como o Checa, então no Hospital de Oncologia, por onde eu passei para levar o seu abraço. Ele e outros, longe, mas sempre presentes   

 

Depois, mais tarde, com a chegada do 25 de Abril, tivemos saudades de nos voltarmos a encontrar uns quantos nas almoçaradas. Ainda houve uns belos almoços, como aquele da Golegã, no tasco do nosso amigo Tschombé do qual nunca mais soubemos nada. Alguém sabe do Tschombé? Ninguém sabe nada!

 

 

Mais um adeus de despedida, ao fim desses dias inesquecíveis de caminhadas sem fim. Tudo o que é bom acaba depressa e, agora, contigo, não haverá mais, embora, eu acredite que estarás sempre presente

 

Mais tarde sumimos alguns. Uns partiram para a estranja, outros espalharam-se por aí a tratar da vida e perdemos-nos. No nosso pequeno grupo de amigos, houve dois que não quiseram dar-se por vencidos. O nosso amigo Rui Perestrelo e o nosso amigo Rui Bernardino que, na prática, nunca se perderam. Os companheiros de guerra, nunca se perdem porque eles, estão sempre presentes no nosso cérebro. Nós tropeçamos uns nos outros e não sabemos quem somos porque a imagem tem influência e muita! Os putos das fardas do "café com leite", leves como plumas e rápidos como raios, todos aqueles de há cerca de 40 anos, nunca mais os esquecemos. São essas as imagens que temos nas nossas cabeças. Mas, à nossa frente, hoje, aparecem uns "calhambeques" desarranjados, mais ou menos abarrigados, tal como eu e, salvo raríssimas excepções, ainda verificamos que, dentro daquele invólucro transformado, está um nosso amigo de tantos anos. Há também os que mudaram pouco! Ontem observava o Madruga debaixo daquela cabeleira branca, caída sobre os ombros mas, dentro do invólucro e debaixo da cabeleira, estava o nosso amigo Madruga tal e qual como ele era. Estava ali a sua alma de tantos anos para trás. Tal como o Rui Madeira, o Simões, ... todos! Acho que nenhum de nós vendeu a alma ao diabo. A nossa alma é, exactamente, como era nesses tempos.

 

 

Nunca mais teremos dias como esses, juntos, na Ria, com a hospitalidade dos amigos Alex e Tina 

 

 

Tudo acaba! As caminhadas acabam e recomeçam sempre até à caminhada final que todos teremos. Mas, aqui, na Ria, tal como em Nova Freixo, em Marrupa e em Vila Cabral, mais uma vez estivemos os três juntos. Longe da guerra, mas juntos

 

Só que, ontem, foi um dia triste! Não foi dia de galhofas, de brincadeiras, como de costume. Foi o dia em que o nosso amigo Rui, o nosso grande amigo a quem desde a Base da Ota, sempre, na brincadeira, chamávamos o Louco da Malásia, despediu-se de nós e nós dele. Eu sei que ele vai continuar a viver connosco! Ele estará sempre a nosso lado, nas suas eternas brincadeiras. Quando ele descobriu que eu ainda existia, voltou a tentar tudo para me encontrar. Pedi a outro para lhe dar o meu número de telefone e, logo de seguida, o telefone tocou e ele, impávido e sereno, do outro lado, disse apenas isto: "cacei-te"!

 

 

Foram dias cheios com as olhadas para o passarinho que te manterá sempre junto de nós

 

Ele sentia uma grande alegria quando nos via juntos. Não me esqueço da alegria que ele sentiu do nosso primeiro encontro, em Alfundão, quando quis ligar para o outro amigo lá para o fundo de tudo - Maputo! Os nossos amigos estão em todo o lado! "Telefono-te, pá, só para te dizer que também estás aqui. Estás aqui connosco. Diz lá bem alto: «Bom dia, Alfundão»! Era a amizade pura do nosso Louco da Malásia! Fico com a sensação que ele se quis despedir de nós! Mas não consegue porque ele vai ficar sempre connosco! Ontem abri um espaço, ainda maior no meu coração, para Alfundão e Ferreira do Alentejo. Por lá ficou pairando sempre, o nosso amigo "Louco da Malásia" e, sonhando com o passado, caminharei, sempre, no presente, por essas belas terras do Alentejo.

Estaremos sempre contigo no coração, Rui! Eu sei que, o Senhor da Esfera, vai ter de continuar a partilhar-te connosco. 

 

 

O "batalhão" de passarinhos que nos vão observando sempre e partilhando das nossas alegrias e tristezas e que acredito, nunca se deixarão de perguntar como é possível tantos anos depois, vivermos a amizade de tantos anos atrás, como se fosse ontem




O Ventor e a sua amiga cegonha, 1969, em Vila Cabral

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